Luísa, muito perturbada, balbuciou:
- Mas...
- Não, minha senhora - cortou Juliana severamente - aqui a criada sou eu.
E saiu, empertigada.
Tanta audácia aterrou Luísa. Aquela ladra era capaz de tudo!
Então, para a não irritar começou, daí por diante, a chamá-la, a dizer: -"traga isto, traga aquilo" - sem a olhar.
Mas Juliana fazia-se tão serviçal, era tão calada, que Luísa pouco a pouco, dia a dia, com o seu caráter móbil, inconsciente, cheio de deixar-se ir, principiou a perder o sentimento pungente daquela dificuldade. E no fim de três semanas as coisas tinham entrado nos seus eixos - dizia Juliana.
Luísa já gritava por ela do quarto, já a mandava a recados fora; Juliana chegava a ter às vezes migalhas de conversação: - Está um calor de morrer... A lavadeira tarda... - Um dia arriscou esta frase mais intima: - Encontrei a criada da senhora D. Leopoldina.
Luísa perguntou:
- Ainda está para o Porto?
- Ainda se demora um mês, minha senhora...
De resto havia na casa um aspecto muito tranquilo, e Luísa, depois de tantas agitações, abandonava-se com gozo à satisfação daquele descanso. Ia às vezes ver D. Felicidade à Encarnação, que já se levantava. E esperava sempre Sebastião, mas sem impaciência, quase contente por ver adiado o momento terrível de lhe dizer: "Escrevi a um homem, Sebastião!"
Assim iam passando os dias; estava-se no fim de setembro.
Uma tarde Luísa ficara mais tempo à janela da sala de jantar; deixara cair o livro no regaço, e olhava, sorrindo, um bando de pombas que de algum quintal vizinho viera pousar sobre o tabique de terreno vago.