Atirou-se para o chão, como uma criatura vencida e finda, escondendo a face no sofá. E Carlos, indo lentamente ao fundo da sala, voltando bruscamente até junto dela, tinha só a mesma recriminação, a mentira, a mentira, pertinaz e de cada dia... Só os soluços dela lhe respondiam.
- Porque não me disseste ao menos depois, aqui nos Olivais, quando sabias que tu eras tudo para mim?...
Ela ergueu a cabeça fatigada:
- Que queres tu? Tive medo que o teu amor mudasse, que fosse doutro modo... Via-te já a tratar-me sem respeito. Via-te a entrar por aí dentro de chapéu na cabeça, a perder a afeição à pequena, a querer pagar as despesas da casa... Depois tinha remorsos, ia adiando. Dizia «hoje não, um dia só mais de felicidade, amanhã será...» E assim ia indo! Enfim, nem eu sei, um horror!
Houve um silêncio. E então Carlos sentiu à porta Niniche que queria entrar e que gania baixinho e doloridamente. Abriu. A cadelinha correu, pulou para o sofá, onde Maria permanecia soluçando, enrodilhando a um canto: procurava lamber-lhe as mãos, inquieta: depois ficou plantada junto dela, como a guardá-la, desconfiada, seguindo, com os seus vivos olhos de azeviche, Carlos que recomeçara a passear sombriamente.
Um ai mais longo e mais triste de Maria fê-lo parar. Esteve um momento olhando para aquela dor humilhada... Todo abalado, com os lábios a tremer, murmurou:
- Mesmo que te pudesse perdoar, como te poderia acreditar agora nunca mais? há esta mentira horrível sempre entre nós a
separar-nos! Não teria um único dia de confiança e de paz...