Não foi o seu único caso durante esses anos, mas esteve quase a tocá-lo profundamente, e teve um efeito decisivo na sua atitude perante a vida.
Dolly era filha de um «jornalista» famoso, que casara com uma menina da sociedade. Ela própria pertencera à Júnior League, debutara no Plaza e fre2 quentava a Assembleia; e apenas algumas famílias antigas como os Hunters podiam pôr em dúvida se ela «pertencia» ou não àquele meio, pois nos jornais apareciam frequentemente fotografias dela, e dedicavam-lhe uma atenção mais invejável do que a muitas raparigas que sem dúvida pertenciam. Tinha cabelos escuros e lábios de carmim, e uma cor saudável e encantadora que escondia debaixo de pó-de-arroz cor-de-rosa acinzentado durante o primeiro ano em que apareceu na sociedade, porque a cor saudável não estava na moda: uma palidez vitoriana era o que se devia ter. Usava fatos pretos e austeros e tinha o hábito de pôr as mãos nos bolsos, meio inclinada para a frente, tendo no rosto uma sobriedade bem-humorada. Dançava de uma maneira requintada; mais do que de qualquer outra coisa excepto de fazer amor, gostava de dançar. Desde os dez anos estivera sempre apaixonada e, normalmente, por rapazes que não lhe correspondiam. Aqueles que o faziam - e houve muitos - aborreciam-na depois de um breve encontro, mas reservava o lugar mais quente do seu coração para os seus insucessos. Quando os encontrava de novo, tentava sempre uma vez mais - algumas vezes com sucesso, outras não.
Nunca ocorreu a esta cigana do inatingível que havia uma certa semelhança entre os que se recusavam a amá-la: compartilhavam de uma forte intuição da fraqueza dela, não uma fraqueza de emoção, mas uma fraqueza de orientação. Anson apercebeu-se disto a primeira vez que a viu, menos de um mês depois do casamento de Paula.
