Era uma sala em que havia várias poncheiras rodeadas de muitas garrafas. Sentou-se ao lado da mesa onde estavam as garrafas.
Ao segundo whisky, o tédio, a raiva, a monotonia do baile, a confusão de acontecimentos transformaram-se num vago pano de fundo à frente do qual se formavam teias de aranhas reluzentes.
As coisas conciliaram-se, ficaram quietas nas suas conchas; os aborrecimentos do dia arrumaram-se em formatura e à sua ordem de dispersar puseram-se em marcha e desapareceram. E com a partida da inquietação surgiu um simbolismo luminoso e penetrante.
Edith transformou-se numa rapariga volúvel e desprezível com quem não tinha que se preocupar; antes tinha de se rir dela. Ajustava-se como uma imagem do seu próprio sonho ao mundo de aparências que se ia formando à sua volta. Ele próprio se tornou, em certa medida, simbólico, protótipo da bacanal moderada, o brilhante sonhador em acção.
Depois esta veia simbólica desfez-se e, enquanto beberricava o terceiro whisky, a sua imaginação entregou-se a essa deliciosa excitação e ele caiu num estado como se boiasse em águas calmas. Foi nesta altura que notou que uma porta verde junto de si se abria uns centímetros e, pela abertura, um par.i.de olhos o mirava com atenção.
- Hum - murmurou Peter calmamente.
A porta verde fechou-se e depois voltou a abrir-se, desta vez só uma nesga.
- Uh, uh - murmurou Peter.
A porta não se mexeu e então ele apercebeu-se de uma série de sussurros ansiosos e intermitentes.
- Um gajo.
- Que é que ele está a fazer?
- Está sentado a olhar.
- O melhor é pormo-nos a andar. Temos de arranjar outra garrafinha.
Peter escutava enquanto as palavras lhe penetravam no entendimento.
- Esta agora - pensou ele -, é estranhíssimo! Estava excitado.