- Se me importo? Oh, Santo Deus! Tenho o maior prazer, e bem o sabe.
- Montes de obrigados! É muito-querido!
Olhou para o relógio de pulso. Era uma e meia.
E ao dizer para si própria «uma e meia», veio-lhe vagamente à ideia que o irmão lhe dissera que ficava a trabalhar na redacção do jornal todas as noites até depois da uma e meia.
Edith voltou-se de repente para o seu par no momento.
- Afinal em que rua fica o Delmonico?
- Em que rua? Ah, é na Quinta Avenida.
- Qual é a transversal, quero dizer?
- Ora, deixe-me ver, é a Rua 44.
Isto corroborava o que ela pensara. A redacção de Henry devia ser do outro lado da rua e logo a seguir à esquina, e imediatamente lhe ocorreu que podia desaparecer por um momento e fazer-lhe uma surpresa, surgir-lhe como que pairando, uma aparição ofuscante no seu novo casaco de noite carmesim e dizer-lhe «Olá». Era exactamente o género de coisa que Edith adorava fazer - uma coisa alegre e sem convencionalismos. A ideia fixou-se-lhe na imaginação; depois de um momento de hesitação decidiu-se.
- O meu cabelo está todo desmanchado - disse risonha para o parceiro; - importa-se que vá arranjá-lo?
- De modo nenhum.
- É um querido!
Uns minutos depois, embrulhada no seu casaco de noite carmesim, desceu a correr por uma escadaria lateral, as faces ardendo de excitação com a sua pequena aventura. Passou a correr ao lado de um casal que estava à porta '- um criado de queixo fino e uma jovem muito pintada discutiam acaloradamente - e, abrindo a porta exterior, entrou na noite quente de Maio.
VII
A jovem muito pintada seguiu-a com um olhar breve e amargo; depois voltou-se para o criado de queixo fino e recomeçou a discussão.
- O melhor é você subir e dizer-lhe que estou aqui - disse ela em tom de desafio - se não, subo eu mesma.