As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 110 / 339

O rei, apesar de ser uma pessoa mais doura que qualquer dos súbditos e de ter feito estudos de filosofia natural e, sobretudo, de matemáticas, ao observar, antes que começasse a falar, o meu aspecto com atenção e ao ver-me caminhar erguido, tomou-me como um aparelho de relojoaria (que alcançara uma grande perfeição naquele país) aperfeiçoado por algum engenhoso artesão. Mas quando escutou a minha voz e percebeu que o que dizia era lógico e devidamente articulado, não pôde ocultar o espanto. Não ficou completamente convencido com o relato que lhe fiz acerca da minha chegada ao seu reino, pensando antes que se tratava de um logro urdido entre Glumdalclitch e o pai, que me teriam ensinado uma série de palavras para vender-me por um preço mais elevado. Com esta convicção, fez-me várias perguntas mais, recebendo, porém, respostas coerentes, apenas com os erros devidos ao meu conhecimento imperfeito do idioma, com algumas expressões rústicas que aprendera na quinta e que não eram adequadas ao estilo polido cortesão.

Sua Majestade convocou três grandes sábios que, de acordo com o costurne daquele país, faziam o turno semanal. Estes cavalheiros, depois de terem examinado a minha figura com toda a minúcia durante um bom momento, chegaram a diversas conclusões sobre mim. Todos estavam de acordo em que não fora criado segundo as leis normais da natureza, porque a minha estrutura orgânica carecia de capacidade para preservar a vida, quer utilizando a velocidade, quer escalando as árvores, quer abrindo tocas na terra.





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