As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 135 / 339

Alguns começaram a lançar pedras com a esperança de levar o macaco a descer, mas isto foi terminantemente proibido pois, a continuar, poderiam atingir-me a cabeça com gravidade.

As escadas foram encostadas com rapidez e vários homens se encarrapitaram nelas. O macaco, ao ver-se cercado e sem possibilidade de fugir utilizando apenas as três patas, deixou-me cair para uma telha e empreendeu a retirada. Permaneci ali um momento, a quinhentas jardas do solo, esperando a cada instante ser derrubado pelo vento ou ser acometido por uma vertigem, rolando até ao beiral. Mas um jovem corajoso um lacaio da minha ama conseguiu alcançar-me, meteu-me num bolso das calças e baixou-me são e salvo.

Estava quase engasgado pelos infectos alimentos que o macaco me tinha metido à força pela garganta, mas a minha extremosa e pequena ama extraiu-me esses bocados da boca com uma agulha. Em seguida, desatei a vomitar, o que me provocou um grande alívio. No entanto, encontrava-me tão magoado e débil pelos apertões que me dera aquele repelente animal, que me vi forçado a recolher à cama por quinze dias. Os soberanos e a corte interessaram-se diariamente pela minha saúde e a rainha visitou-me várias vezes durante a minha convalescença. O macaco foi mandado abater e deram-se ordens para não ter no palácio semelhantes animais.

Depois de me sentir recuperado fui visitar o rei para lhe agradecer as atenções e este gracejou um bom momento sobre este incidente. Perguntou-me que pensamentos e reflexões me tinham assaltado quando estava nas mãos do macaco, se tinha gostado da comida e do modo como me fora dada, e se o ar fresco do telhado aguçara o meu apetite. Tinha interesse em saber o que teria feito em tais circunstâncias no meu país.





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