As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 153 / 339

As folhas maiores não ultrapassavam os dezoito ou vinte pés de comprimento.

O estilo desta gente é claro, viril e suave, mas não floreado; não há nada que evitem com mais cuidado que a utilização de palavras desnecessárias ou expressões diferentes. Li atentamente muitos dos seus livros, especialmente aqueles que abordam a história e a ética. Entre estes últimos divertiu-me muito um pequeno e velho tratado de religião e moral que estava sempre no dormitório de Glumdalclitch e que pertencia à sua professora, uma senhora idosa e muito severa. O livro, que tratava da fraqueza do género humano, era pouco apreciado excepto entre as mulheres e a plebe. Sentia, porém, curiosidade em saber o que um autor daquele país podia dizer sobre tal assunto. Este escritor passava em revista todos os temas mais comuns dos moralistas europeus, demonstrando o defeituoso, desprezível e fraco que era, por natureza, um animal como o homem; quão incapaz de defender-se contra as inclemências do tempo ou a fúria dos animais selvagens; quanto o superavam outros seres em força, velocidade, previsão e diligência. Acrescentava que a natureza provocara degenerações nos últimos tempos e que era apenas capaz de produzir homens pequenos e monstruosos em comparação com os de outros tempos. Dizia que era muito razoável pensar que a espécie humana, nas suas origens, não só era mais alta, mas que deviam ter existido gigantes em tempos remotos que, de acordo com a história e a tradição, e como o atestam os enormes ossos e crânios encontrados casualmente em várias partes do reino, superavam em tamanho a diminuta raça humana dos nossos dias. Defendia que as próprias leis da natureza exigiam de um modo absoluto que, ao princípio, tivessem tido um tamanho maior e mais robusto, menos susceptíveis a sofrerem problemas sérios com incidentes como a queda de uma telha, uma pedra atirada por um miúdo ou o afogamento num ribeiro.





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