No fim da viagem o rei considerou oportuno residir por uns dias num palácio situado perto de Flanfasnic, cidade que ficava a umas dezoito milhas inglesas do mar. Glumdalclitch e eu estávamos muito cansados. Eu apanhara uma leve constipação, mas a pobre criança sentia-se tão mal que teve de ficar nos seus aposentos. Eu ansiava ver o oceano, que constituía o único caminho para a liberdade, se é que alguma vez a retomaria. Fingi estar pior do que realmente estava e pedi autorização para ir respirar o ar fresco do mar na companhia de um pajem por quem tinha grande estima e que já algumas vezes se encarregara de mim.
Nunca esquecerei com que renitência Glumcialclitch deu o seu consentimento, nem as severas ordens que deu ao pajem para olhar por mim, ao mesmo tempo que se desfazia em lágrimas como se pressentisse o que ia ocorrer. O rapaz conduziu-me na caixa, durante meia hora de caminho desde o palácio até às escarpas da costa. Pedi-lhe que me pusesse no chão e, levantando um dos postigos da janela, contemplei o mar com atenção e melancolia.
Encontrava-me indisposto e comuniquei ao pajem que ia fazer uma sesta na rede, esperando assim melhorar. Subi para ela e o rapaz fechou cuidadosamente as janelas para que eu não apanhasse frio.