As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 157 / 339

Pedira para se fixar uma rede com cordas de seda presas aos quatro ângulos superiores para amortecer os solavancos, sempre que um criado, a pedido meu, me levava na parte dianteira da cadeira; costumava dormir nela com frequência quando viajávamos. Pedi ao carpinteiro que fizesse uma abertura de um pé quadrado no tecto, precisamente sobre o centro da rede para, quando estava calor, me refrescar enquanto dormia, abertura que fechava e abria à vontade através de uma tábua que deslizava numa ranhura.

No fim da viagem o rei considerou oportuno residir por uns dias num palácio situado perto de Flanfasnic, cidade que ficava a umas dezoito milhas inglesas do mar. Glumdalclitch e eu estávamos muito cansados. Eu apanhara uma leve constipação, mas a pobre criança sentia-se tão mal que teve de ficar nos seus aposentos. Eu ansiava ver o oceano, que constituía o único caminho para a liberdade, se é que alguma vez a retomaria. Fingi estar pior do que realmente estava e pedi autorização para ir respirar o ar fresco do mar na companhia de um pajem por quem tinha grande estima e que já algumas vezes se encarregara de mim.

Nunca esquecerei com que renitência Glumcialclitch deu o seu consentimento, nem as severas ordens que deu ao pajem para olhar por mim, ao mesmo tempo que se desfazia em lágrimas como se pressentisse o que ia ocorrer. O rapaz conduziu-me na caixa, durante meia hora de caminho desde o palácio até às escarpas da costa. Pedi-lhe que me pusesse no chão e, levantando um dos postigos da janela, contemplei o mar com atenção e melancolia.

Encontrava-me indisposto e comuniquei ao pajem que ia fazer uma sesta na rede, esperando assim melhorar. Subi para ela e o rapaz fechou cuidadosamente as janelas para que eu não apanhasse frio.





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