As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 206 / 339

Naquela altura, este sábio ocupava-se pessoalmente de dois grandes projectos: o primeiro consistia em semear com a casca que, conforme afirmava, continha a verdadeira força germinadora da semente, como o demonstrou com diversas experiências que fui incapaz de compreender. O outro, era um preparado de gomas, minerais e vegetais que, aplicado externamente num par de cordeirinhos recém-nascidos, impediria que lhes crescesse a lã; esperava com isso, num prazo razoável, propagar por todo o reino uma raça de ovelhas sem lã.

Atravessámos a rua e dirigimo-nos para a outra parte da academia onde, como já mencionei, se encontravam os especialistas das ciências especulativas.

O primeiro dos mestres que vi ocupava uma ampla sala e estava rodeado por quarenta discípulos. Saudámo-nos e, ao verificar que eu olhava com interesse um artefacto que ocupava a sala em quase todo o comprimento, perguntou-me se não achava estranho que se dedicasse a fazer progredir as ciências especulativas com processos práticos e mecanizados. Mas em breve o mundo compreenderia a sua utilidade, e vangloriava-se de nunca a mente humana ter concebido alguma vez um pensamento mais nobre e exaltante. É sabido por todos quão laborioso é o processo de aprendizagem das artes e ciências, enquanto que graças ao seu invento a pessoa mais ignorante será, por um preço módico, e com um pequeno esforço muscular, capaz de escrever livros de filosofia, poesia, política, direito, matemáticas e teologia, sem precisar de vocação ou estudo. Conduziu-me até à tosca engenhoca em redor da qual se alinhavam os discípulos. Formava um quadrado de vinte pés por vinte e estava colocada no meio da sala. A superfície era composta por pequenos cubos de madeira, de dimensões variáveis, embora não muito maiores que um dedal, e ligados por um arame.





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