As Viagens de Gulliver - Cap. 5: Capítulo III Pág. 216 / 339

Aceitou a minha oferta com uma amabilidade pouco usual entre escritores, sobretudo os ensaístas, confessando-me que apreciaria receber informação adicional.

Disse-lhe que no reino da Tribnia, chamado Langden pelos nativos, onde permanecera muito tempo, no decurso das minhas viagens, o grosso da população era composta essencialmente por investigadores, testemunhas, informadores, delatores, perseguidores, jurados, com os correspondentes instrumentos servis e subalternos, todos sob o estandarte, disposição e soldo dos ministros e dos seus ajudantes. As conjuras daquele reino são normalmente resultado de pessoas que procuram ou impor-se como políticos eminentes, ou revigorar uma administração corrupta, ou sufocar ou desviar o descontentamento geral, encher os bolsos com bens confiscados, provocar a alta ou a baixa dos títulos do Estado, conforme convenha aos seus interesses particulares. Primeiro, começam sempre por pôr-se de acordo sobre o número de suspeitos a quem acusar de conspiração; em seguida, são confiscadas essas cartas e documentos e são encarcerados. Estes documentos seguem para as mãos de especialistas em decifrar o significado misterioso de palavras, sílabas e letras. Por exemplo, sabem decifrar que uma cadeira com o assento roto significa o conselho privado; um bando de gansos é o Senado; um cão coxo, um invasor; uma cabeça de bacalhau, um rei; a peste, um exército permanente; um malhadeiro, um primeiro-ministro; a gota, um cardeal; o patíbulo, um secretário de Estado; o urinol, uma comissão de nobres; uma peneira, uma dama da corte; uma vassoura, uma revolução; uma ratoeira, um cargo; um poço sem fundo, o tesouro; um lamaçal, uma corte; um bufarinheiro, um favorito; uma cana rachada, um tribunal; uma pipa vazia, um general; uma chaga purulenta, a administração.





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