As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 23 / 339

Por tal motivo, o coronel ordenou a captura de seis cabecilhas e considerou que o mais justo seria entregarmo-los atados, pelo que alguns dos seus soldados, cumprindo ordens, os puseram ao meu alcance à ponta de lanças. Com a mão direita apanhei-os a todos e, em seguida, meti cinco no bolso da jaqueta; ao sexto, dei-lhe a entender que o ia comer. O pobre homem guinchou horrorizado, e o pavor alastrou ao coronel e aos oficiais, sobretudo quando me viram tirar o canivete. Acabei rapidamente com esta situação aflitiva quando, olhando-o com benevolência e libertando-o das cordas que o oprimiam, pu-lo no chão com cuidado, após o que saiu numa corrida desenfreada. Com os restantes, comportei-me de igual modo: tirei-os do bolso um a um e verifiquei que a multidão e os soldados agradeciam este gesto de generosidade, que tanta influência teria na corte.

Ao cair da noite consegui penetrar em casa com certa dificuldade; o chão foi o meu leito durante quinze dias até que o imperador ordenou que me fizessem uma cama. Transportaram seiscentas das suas pequenas camas em carrinhos e instalaram-nas em minha casa. Com cento e cinquenta conseguiram fazer uma à minha medida e sobrepuseram quatro para dar-lhe uma certa altura. Apesar de tudo não notava a diferença do chão de pedra polida. Além disso, trouxeram lençóis, mantas e colchas com as mesmas dimensões, luxo inusitado para quem estava acostumado à escassez.

A notícia da minha chegada espalhou-se rapidamente por todo o reino e atraiu a multidão de ricos, ociosos e curiosos que despovoou localidades que ficariam sem gente para os trabalhos domésticos e rurais se o imperador não tivesse dados ordens e mandado publicar éditos para enfrentar tempestivamente a situação.





Os capítulos deste livro