As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 258 / 339

Na altura, não podia compreender o seu significado, embora tivesse sido a primeira que aprendera a pronunciar. Mas, para meu tormento, depressa o compreendi com clareza. O cavalo fez-me gestos com a cabeça e repetiu, como durante o caminho, a palavra hhuun, hhuun. Interpretei que devia segui-lo e conduziu-me para uma espécie de pátio onde havia outro edifício a certa distância da casa. Entrámos e vi três das horrendas criaturas que encontrara, e que estavam a comer umas raízes e pedaços de carne (verifiquei depois que era carne de cão ou de asno; às vezes também lhes davam uma vaca morta por acidente ou doença). Todos estavam presos pelo pescoço a uma viga através de cordas grossas; agarravam a comida com as garras das patas dianteiras e devoravam-na às dentadas.

O cavalo amo ordenou a um rocim alazão, um dos seus criados, que desatasse o maior do referidos animais e o levasse para o pátio. Colocaram-nos um ao lado do outro e, seguidamente, amo e criado compararam o nosso aspecto centímetro a centímetro, após o que ambos repetiram várias vezes a palavra Yahoo. O meu horror e espanto foram indescritíveis quando descobri neste imundo animal uma figura humana perfeita. Na verdade, o rosto era liso e oval, o nariz achatado, os lábios cheios e a boca grande. Mas estas características são comuns a todas as nações selvagens, onde as feições do rosto estão desfiguradas pelo costume de deixar as crianças de bruços no chão ou de apertar-lhes o rosto contra as espáduas, quando as mães os levam às costas. As mãos dianteiras do yahoo só diferiam das minhas no comprimento das unhas, na aspereza, no tom escuro das palmas; outra diferença residia na espessa penugem do dorso. Idênticas diferenças e semelhanças havia nos pés, embora os cavalos não se tenham apercebido, devido aos meus sapatos e coturnos.





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