As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 48 / 339

A corda era da espessura do fio de cânhamo, e as barras com a envergadura de agulhas de coser. Juntei três cordas para as tornar mais resistentes e, pela mesma razão, uni as barras de ferro de três em três, dobrando os extremos em forma de gancho. Aprovisionado, então, com cinquenta ganchos e respectivas cordas, regressei à costa nordeste e, depois de retirar a jaqueta, os sapatos e os coturnos, entrei pelo mar com o gibão de couro, cerca de meia hora antes de subir a maré. Caminhei pela água com a máxima rapidez e, já no centro do canal, nadei umas trinta jardas até que alcancei pé, chegando junto à frota em menos de meia hora. Ao ver-me, o inimigo assustou-se tanto que a tripulação dos barcos saltou pela borda e atingiu a nado a margem onde se tinham juntado não menos de trinta mil almas. Agarrei então nos meus instrumentos e, depois de fixar um gancho na abertura de cada proa, atei todas as cordas pela extremidade. Enquanto procedia a esta operação, o inimigo disparou milhares de flechas que, na sua maioria, me atingiram as mãos e a cara, coisa que, para além de uma dor intensa, perturbava a operação. Temia em especial por meus olhos, que poderia ter irremediavelmente perdido se não me tivesse ocorrido uma repentina solução. Num pequeno bolso oculto guardava, entre outros pequenos utensílios, uns óculos que os emissários do imperador não tinham descoberto quando me revistaram, conforme já disse anteriormente. Tirei-os e ajustei-os o melhor possível ao meu nariz e, protegido desta forma, prossegui com serenidade a operação, apesar das numerosas flechas inimigas que se estilhaçavam nas lentes dos óculos, provocando apenas pequenos estragos. Quando acabei de fixar todos os ganchos, agarrei o nó das cordas e comecei a puxar, mas nem um barco se moveu porque estavam todos ancorados. Faltava fazer a tarefa mais arriscada.




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