As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 67 / 339

CAPÍTULO VII

o autor, conhecedor de que queriam acusá-lo de alta traição, foge para Blefoscu. Recepção que aqui lhe prestam.

Antes de contar ao leitor a minha partida deste reino, seria apropriado informá-lo de uma intriga secreta que, desde há dois meses, se estava a preparar contra mim.

A minha vida desenvolvera-se até então longe dos ambientes cortesãos, inadequados à minha humilde condição. É claro que já ouvira ralar e lera bastante sobre os caprichos dos grandes príncipes e ministros, mas nunca esperei encontrar tão terríveis atitudes num país remoto, governado, segundo pensava, por princípios muito diferentes dos europeus.

Precisamente quando me preparava para cumprimentar o imperador de Blefuscu, uma pessoa muito apreciada na corte (a quem eu prestara um grande favor por ter caído em desgraça junto de Sua Majestade Imperial) chegou a minha casa, de noite, em rigoroso secretismo, numa cadeirinha com as cortinas fechadas e que, sem revelar o nome, pediu uma audiência, despedindo os carregadores. Guardei a cadeirinha, com sua senhoria lá dentro, no bolso da casaca e, dando ordens a um criado de confiança para que dissesse que eu estava indisposto e que me fora deitar, corri o ferrolho da porta de casa, pus a cadeirinha em cima da mesa, como de costume, e sentei-me. Após a troca devida de saudações, observando que o rosto

e sua senhoria reflectia profunda preocupação, perguntei-lhe a razão e ele pediu-me que o escutasse pacientemente acerca de um assunto que tinha muito a ver com a minha vida e com a minha honra.

Eis o que me disse, pois de imediato tomei notas assim que ele partiu.





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