O imperador de Blefuscu, depois de três dias de consultas, enviou uma resposta cheia de cortesias e de desculpas. Dizia que, como o seu irmão sabia, era impossível enviar-me amarrado; que, apesar de eu o ter privado da trota, sentia-se em dívida comigo pelos meus bons ofícios na elaboração da paz; mas que, apesar disso, ambas as majestades em breve ficariam satisfeitas, uma vez que eu encontrara na costa uma nave prodigiosa, capaz de levar-me para o alto mar, e que ele dera ordem para a reparar, sob a minha direcção e ajuda, e assim ele esperava que, em poucas semanas, ambos os reinos se veriam libertados de carga tão insuportável.
O mensageiro regressou a Lilliput com esta resposta, e o monarca de Blefuscu relatou-me tudo o que se passara oferecendo-me, por sua vez (mas sob o mais rigoroso segredo), a sua graciosa protecção, se continuasse a seu serviço. Admitindo, porém, a sua sinceridade, já tinha decidido nunca mais depositar confiança em príncipes ou ministros, se me fosse possível evitá-lo; e assim, agradecendo-lhe penhoradamente as suas boas intenções, recusei humildemente a proposta. Disse-lhe que dado que a fortuna, para o bem ou para o mal, pusera uma embarcação no meu caminho, estava decidido a aventurar-me no oceano, evitando ser motivo de discórdia entre dois monarcas tão poderosos.