Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 1: I

Página 17
Não estava isolado na sua opinião. O próprio-mar, como se partilhasse a indulgência bonacheirona do senhor Jukes, nunca se dera ao incómodo de sobressaltar aquele homem calado, que raramente erguia os olhos e que vagueava inocentemente por cima das águas com a única finalidade visível de arranjar comida, vestuário e um tecto para três pessoas em terra. Ele sabia por experiência própria, evidentemente, o que era mau tempo. Ficara encharcado, sentira-se incomodado, fatigado como costuma suceder em semelhantes situações, coisas que se sentiam nesse momento e pouco depois se esqueciam. Portanto, de uma forma geral justificava-se que ao escrever para casa dissesse que tivera bom tempo. Mas nunca lhe fora dado um vislumbre da força incomensurável e da cólera ilimitada, dessa cólera que passa exausta mas nunca apaziguada - a cólera e a fúria do mar apaixonado. Ele sabia que essas coisas existiam, como nós sabemos que o crime e a abominação existem; ouvira falar delas como o pacífico cidadão ouve na sua cidade falar de batalhas, de fomes e de inundações e contudo ignora o que essas coisas significam de facto - embora, claro, possa ter-se visto envolvido numa zaragata na rua, ter ficado uma vez sem jantar ou encharcado até aos ossos por um aguaceiro. O capitão MacWhirr tinha navegado sobre os oceanos como alguns homens deslizam sobre a vida para baixar suavemente a uma plácida sepultura, ignorando a vida até ao fim, sem terem sequer visto tudo o que ela contém de perfídia, de violência e de terror. Há no mar e em terra homens assim afortunados - ou assim desdenhados pelo destino ou pelo mar.

<< Página Anterior

pág. 17 (Capítulo 1)

Página Seguinte >>

Capa do livro Tufão
Páginas: 103
Página atual: 17

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I 1
II 18
III 37
IV 49
V 72
VI 91