O Retrato de Dorian Gray - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 263 / 335

- Não me importa. Não preciso de você - respondeu Campbell, friamente.

Dorian abriu meia porta. Deu logo com os olhos no retrato, que, banhado de sol, parecia espreitá-lo. No chão, em frente, estava a cortina rasgada. Lembrou-se de que na noite anterior se havia, pela primeira vez, esquecido de esconder a tela fatal, e ia atirar-se, desvairadamente, pelo quarto dentro, quando, estremecendo, recuou...

Que era aquela repugnante mancha vermelha e húmida que reluzia numa das mãos, como se a tela estivesse a suar sangue? Que coisa horrível - mais horrível, pareceu-lhe, nesse momento, do que aquilo que sabia estar atravessado sobre a mesa, esse fardo cuja sombra informe no tapete manchado lhe mostrava não se haver mexido, mas ainda lá estar tal qual ele o deixara...

Sorveu um profundo hausto, abriu a porta um bocadinho mais e, com os olhos semicerrados e a cabeça voltada para o lado, entrou decididamente, resolvido a não pôr os olhos no cadáver, Então, baixando-se e apanhando o pano de oiro e púrpura, tapou com ele o retrato.

Depois parou, receoso de se voltar, e quedou-se aí, de olhos fitos no intrincado desenho do pano. Ouviu Campbell trazer para dentro do quarto a pesada caixa, os ferros e as outras coisas necessárias para o seu terrível trabalho. Começou a perguntar a si mesmo se, porventura, ele e Basil Hallward se haveriam alguma vez encontrado e, nesse caso, o que um do outro teriam pensado.





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