»Depois que todas as almas escolheram a sua vida, avançaram para Láquesis pela ordem que a sorte lhes fixara. Esta deu a cada uma o génio que tinha preferido, para lhe servir de guarda durante a existência e realizar o seu destino. O génio conduzia-a primeiramente a Cloto e, fazendo-a passar por baixo da mão desta e sob o turbilhão do fuso em movimento, ratificava o destino que ela tinha escolhido. Depois de ter tocado o fuso, levava-a para a trama' de Átropo, para tornar irrevogável o que tinha sido fiado por Cloto; então, sem se voltar, a alma passava por baixo do trono da Necessidade; e, quando todas chegaram ao outro lado, dirigiram-se para a planície do Lete, por um calor terrível que queimava e sufocava: é que esta planície está despida de árvores e de tudo o que nasce da terra. Ao anoitecer, acamparam nas margens do rio Ameles, cuja água nenhum vaso pode conter. Cada alma é obrigada a beber uma certa quantidade dessa água, mas as que não usam de prudência bebem mais do que deviam. Ao beberem perdem a lembrança de tudo. Ora, quando todas adormeceram e a noite chegou a meio, rebentou um trovão, acompanhado de um tremor de terra, e as almas, cada uma por uma via diferente, subitamente lançadas nos espaços superiores para o lugar do seu nascimento, faiscaram como estrelas. Quanto a ele, dizia Er, tinham-no impedido de beber água; contudo, não sabia por onde nem como a sua alma se juntara ao corpo; abrindo de repente os olhos, ao alvorecer, vira-se estendido na pira.