O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 94 / 158

A juba branca, anelada, eriçava-se-lhe de fúria, os olhos chispavam-lhe fogo, os grandes caninos brancos reluziam-lhe e ele era espectáculo digno de ver-se.

O velho Rompão Marinho, seu pai, viu-o romper a seu lado, alando as velhas focas grisalhas de um lado para o outro, como se fossem halibus, e dispersando os jovens solteiros em todas as direcções; e Rompão Marinho deu um só rugido e bradou:

- Pode ser louco, mas é o melhor guerreiro que há nas praias. Não ataques o teu pai, meu filho, que está a teu lado!

Cótique respondeu com um rugido, e o velho Rompão Marinho entrou bamboleando-se, de bigode eriçado, a resfolegar como uma locomotiva, ao passo que Matcá e a foca que ia casar com Cótique se agacharam a admirar os maridos. Foi uma luta grandiosa, porque os dois combateram enquanto houve uma foca que ousasse levantar a cabeça, e depois pavonearam-se majestosamente, a par, de um lado para o outro da praia, bramindo.

À noite, no momento em que a aurora boreal tremeluzia e fuzilava através do nevoeiro, Cótique subiu a uma rocha nua e baixou a vista sobre os viveiros e focas golpeadas a sangrar.

- Agora - disse -, já vos dei a lição requerida,

- Coa breca! - suspirou o velho rompão marinho, erguendo-se doridamente, pois estava terrivelmente maltratado. - A própria orca não poderia tê-los retalhado mais. Filho, orgulho-me de ti, e, mais do que isso, irei contigo para a tua ilha se tal lugar existe.

- E vós, suínos gordos do mar! Quem me acompanha para o túnel da Vaca Marinha? Respondei, ou dar-vos-ei outra lição rugiu Cótique.

Ouviu-se um murmúrio semelhante ao sussurro da maré em toda a extensão das praias.

- Iremos - disseram milhares de vozes cansadas. Seguiremos Cótique, a foca branca.

Cótique deixou então descair a cabeça sobre os ombros e fechou os olhos com orgulho.





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