já não era a foca branca, mas rubra da cabeça à cauda. Não obstante, recusar-se-ia a olhar ou tocar uma só das suas feridas.
Passada uma semana ele e o seu exército (perto de dez mil holuchiqui e focas adultas) abalaram em direcção ao Norte, para o túnel da Vaca Marinha, com Cótique a guiá-las, e as focas que ficaram em Novastosná chamaram-lhes loucos. Mas na Primavera seguinte, quando todas se encontraram ao largo dos bancos das pescarias do Pacífico, as focas de Cótique tais maravilhas contaram das praias novas, para lá do túnel da Vaca Marinha, que as outras abandonaram Novastosná cada vez em maior número.
Naturalmente não se fez tudo logo, porque as focas precisam de tempo para revolver as coisas em seus bestuntos, mas ano após ano mais focas trocavam Novastosná e Lucanon e os outros viveiros pelas praias tranquilas e abrigadas, onde Cótique se conserva durante todo o Verão, crescendo, engordando e fortalecendo-se mais e mais cada ano, ao passo que os holuchiqui brincam em redor dele, naquele mar aonde nenhum homem chegou.
LUCANON
(É A CÉLEBRE CANÇÃO DO MAR ALTO QUE TODAS AS FOCAS DE SÃO PAULO CANTAM QUANDO REGRESSAM ÀS SUAS PRAIAS NO VERÃO.
É UMA ESPÉCIE DE HINO NACIONAL DAS FOCAS, MUITO TRISTE)
De manhã meus irmãos encontrei. (Eu cansado!)
Lá, onde nos recifes a calema estival,
Rebentava. E o estridor das rochas abafado
P'lo coro de dois milhões de vozes, colossal!
Praias de Lucanon!
Aprazíveis recantos junto das lagunas,
Esquadrões refolegantes rebolam nas dunas,
E os bailados da meia-noite irisando o mar,
Antes que os marinheiros lá possam chegar.
Praias de Lucanon!
De manhã, meus irmãos encontrei (jamais os verei)
Que num vaivém constante a praia, em legiões,
Escureciam.