O Livro da Selva - Cap. 4: A FOCA BRANCA Pág. 93 / 158

As outras focas acharam graça e a foca nova começou a torcer a cabeça de um lado para o outro. Acabava de casar e andava a fazer muito barulho com o caso.

- Não tenho viveiro por que haja de bater-me - disse Cótique. - Apenas quero mostrar-vos a todos um lugar onde estareis em segurança. De que serve lutar?

- Ah, se tu procuras fugir, decerto não tenho mais que dizer - disse a jovem foca, com um riso escarninho.

- Prometes vir comigo se eu te vencer? - propôs Cótique. E apareceu-lhe nos olhos um reflexo verde, pois sentia-se muito irado por ter de se bater.

- Muito bem - disse o jovem macho, indiferentemente. Se me venceres, irei.

Não teve tempo de mudar de parecer, porque a cabeça de Cótique embateu como um raio e os dentes enterraram-se na gordura do cachaço da foca nova. Depois atirou-se para trás, sobre as ancas, e arrastou o inimigo praia abaixo, sacudiu-o e arremessou-o ao mar com um safanão. A seguir, Cótique rugiu às focas:

- Durante estes cinco anos fiz por vós o que pude. Descobri-vos a ilha onde estareis seguras, mas se vos não arrancar a cabeça do estúpido cachaça não acreditareis. Vou-vos ensinar agora. Tratai de vos defender!

Contou-me Limerchin que nunca na sua vida - e Limerchin vê todos os anos dez mil focas a baterem-se -, nunca em toda a sua vida vira coisa que se parecesse com o assalto que Cótique fez aos viveiros. Atirou-se ao maior dos rompões do mar que encontrou, segurou-o pelo gasnete, abafou-o, sovou-o e sacudiu-o até que ele grunhiu a pedir misericórdia, e então arremessou-o para o lado e assaltou o seguinte. É que Cótique nunca jejuara durante quatro meses, como as focas grandes faziam todos os anos, e as suas excursões pelo mar alto mantinham-no em boa forma; acima de tudo, nunca se tinha ainda batido.





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