Histórias Extraordinárias - Cap. 5: O FUNIL DE CABEDAL Pág. 118 / 136

Tenho agora por regra, quando hesito sobre um pormenor material, colocar o objecto em questão ao meu lado durante o sono e esperar firmemente urna iluminação. Este método não me parece muito tenebroso, se bem que não tenha sido gratificado até hoje pela bênção da ciência oficial. Segundo a minha teoria, um objecto que tenha estado intimamente associado a qualquer paroxismo de emoção humana, alegre ou dolorosa, conserva uma certa atmosfera ou impregnação que pode comunicar-se a um espírito anormal; falo simplesmente de um espírito exercitado e culto, como o senhor e eu possuímos.

- Quer dizer, por exemplo, que se eu dormisse ao lado desta velha espada que está pendurada na parede, poderia sonhar com um incidente sangrento no qual a espada teria participado?

- Escolheu muitíssimo bem o seu exemplo! De facto, utilizei a propósito desta espada o método de que lhe falei, e assisti durante o sono à morte do seu proprietário: este pereceu no decurso de uma escaramuça que não pude situar com exactidão mas que ocorreu na época da Fronda. Se quiser reflectir bem, algumas das nossas crenças populares provam que os nossos antepassados já tinham reconhecido esta verdade que nós, com a nossa sabedoria, classificámos na categoria das superstições.

- Por exemplo?

- Ora bem, quando se coloca o bolo de casamento debaixo do travesseiro a fim de que o dorminhoco tenha sonhos agradáveis. Encontrará outros casos análogos numa pequena brochura que estou a escrever. Mas para voltar ao nosso problema, dormi uma noite com este funil ao meu lado, e tive um sonho que projectou uma estranha claridade sobre a sua origem e o uso que dele foi feito.

- O que foi que sonhou?

- Sonhei...

Interrompeu-se, e exibiu de súbito um ar muito interessado.





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