Histórias Extraordinárias - Cap. 1: MÃO ESCURA Pág. 16 / 136

.. e bruscamente surgiu uma ideia na minha cabeça! Saltei do canapé e peguei na mão escura. Sim, eu tinha razão! Era a mão esquerda do amputado.

Regressei a Londres no primeiro comboio e corri para o hospital da marinha. Recordava-me de que o marinheiro em causa fora amputado das duas mãos, mas sentia um medo horrível de que o precioso órgão que tinha vindo buscar tivesse sido lançado ao forno crematório. Os meus temores depressa ficaram dissipados: a mão direita ainda se encontrava na sala das autópsias. Voltei a partir, portanto, para Rodenhurst à noite, com a minha missão cumprida e a segunda mão escura na algibeira.

Mas sir Dominick não quis saber de nada quando lhe anunciei que passaria uma terceira noite no laboratório. Ficou surdo aos meus rogos. O seu sentido da hospitalidade estava ofendido: manteve-se inabalável. Tive, portanto, de deixar a mão direita num bocal, como fizera com a esquerda na noite precedente e fui instalar-me num quarto muito confortável, situado no outro extremo da casa.

Mas estava escrito que o meu sono seria, apesar disso, interrompido. A meio da noite, o meu anfitrião irrompeu no meu quarto. Estava envolvido num amplo roupão e, com a sua estatura gigantesca, teria impressionado muito mais uma pessoa nervosa do que o fantasma das Índias. Mas não foi a sua aparição que me surpreendeu: foi uma expressão e um ar que eu não lhe conhecia, Rejuvenescera vinte anos; os olhos brilhavam, a sua fisionomia irradiava alegria, agitou triunfalmente um braço por cima da cabeça. Endireitei-me, vagamente apavorado. As suas palavras despertaram-me por completo.

- Está feito! Conseguimos! - exclamou. - Meu caro Hardacre, como poderei agradecer-lhe devidamente?

- Não quererá dizer que o estratagema funcionou?

- Claro que sim! Tinha a certeza de que não ficaria zangado comigo por acordá-lo para dar-lhe uma novidade tão boa.





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