Histórias Extraordinárias - Cap. 2: O CASO DE LADY SANNOX Pág. 22 / 136

O vento engolfava-se nas chaminés e rugia nas vidraças das janelas.

Uma chuva fina ecoava nos vidros cada vez que havia uma rajada de vento, cobrindo por momentos o murmúrio monótono da água que caía dos telhados.

Douglas Stone tinha acabado de jantar e estava sentado junto da lareira no seu gabinete, um copo de vinho do Porto velho ao seu alcance em cima da mesa de malaquite.

Quando o levou aos lábios, manteve-o contra a luz do candeeiro e examinou com o olhar do conhecedor as pequenas palhetas de asas de abelha que flutuavam nas profundezas do seu rubi rutilante.

As chamas, entrelaçando-se, iluminavam-lhe o rosto ousado, de feições vincadas, os olhos cinzentos muito abertos, os lábios espessos e, não obstante, firmes, o maxilar quadrado que tinha algo de romano na sua força e na sua bestialidade.

Enterrado na sua luxuosa poltrona, sorria de vez em quando.

Claro que possuía razões para se alegrar porque, ao contrário da opinião de seis colegas, efectuara nesse dia uma operação de que apenas se conheciam dois exemplos, e o resultado fora brilhante, para além de toda a esperança.

Nenhum outro cirurgião em Londres ousaria conceber nem teria a habilidade de executar uma decisão tão heróica.

Mas prometera a lady Sannox ir visitá-la nessa noite e eram já oito e meia.

O braço esticara-se para tocar a campainha e mandar chamar a carruagem quando ouviu o toque abafado do batente da porta.


IV

Um instante depois, notou passos na antecâmara e o ruído de uma porta a ser fechada.

- Um doente que deseja consultar o senhor. Fi-lo entrar para a sala do consultório - disse o mordomo. - É ele o doente?

- Não, senhor. Deseja que o acompanhe.

- É muito tarde! - exclamou Douglas Stone num tom de mau humor.





Os capítulos deste livro