Histórias Extraordinárias - Cap. 2: O CASO DE LADY SANNOX Pág. 26 / 136

- Oh, não! Nós ocupamos um pequeno apartamento tranquilo em Euston Road.

O médico premiu a mola do seu relógio de repetição e escutou a pequena campainha.

Eram nove e um quarto.

Calculou as distâncias e o tempo de que precisaria para praticar uma operação tão banal.

Poderia estar com lady Sannox às dez horas.

Através das portinholas enevoadas, via desfilar os bicos de gás vacilantes e por vezes a luz mais brilhante de uma loja.

A chuva fustigava o tejadilho de couro do fiacre e as rodas marulhavam como se rodassem num charco de lama.

À sua frente, o turbante branco do companheiro mal era visível no meio da obscuridade.

O cirurgião rebuscou nas algibeiras e arrumou as agulhas, as ligaduras, os alfinetes de segurança, para não perder tempo quando chegasse.

Impacientava-se e batia com os pés no chão.

O fiacre afrouxou, enfim, o andamento, depois deteve-se.

Douglas Stone apeou-se imediatamente; o comerciante de Esmirna seguiu-o.

- Pode esperar - disse ele ao cocheiro.


VIII

Era uma casa com aspecto pobre, numa rua estreita e sórdida.

O cirurgião, que conhecia bem a sua Londres, lançou uma olhadela rápida na direcção das sombras, mas nada havia de especial, nem lojas, nem movimento, nada a não ser uma fila dupla de fachadas unidas, monótonas, e dois troços de lajes molhadas que brilhavam à luz dos candeeiros; depois, duas torrentes de água oriunda das goteiras que turbilhavam e sussurravam nas grades dos esgotos.

A porta de uma das casas estava manchada e descolorida, e uma luz fraca nas vidraças em leque no topo servia para deixar ver a poeira e a sujidade que as cobriam.

Em cima, nas janelas de um dos quartos, uma luz amarela, triste, brilhava.

O comerciante bateu à porta com força e, quando voltou o rosto moreno para a luz, Douglas Stone pôde ver o quanto ele se achava contraído pela ansiedade.





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