Para Douglas Stone, era já um caso interessante, e repeliu por inaceitáveis as objecções do marido.
- Parece que é isso ou nada - disse ele bruscamente. - Vale mais perder um lábio do que a vida.
- Ah!, sim, sei que o senhor tem razão. Devemos arriscar. Tenho um fiacre. O senhor virá comigo e fará a operação.
VI
Douglas Stone tirou a sua maleta dos bisturis de uma gaveta e meteu-a com um rolo de ligaduras e uma compressa de linho na algibeira.
Não devia perder tempo se queria encontrar-se com lady Sannox.
- Estou pronto - disse enquanto envergava o sobretudo. - Deseja tomar um copo antes de sairmos para este ar gelado?
O visitante deu um passo atrás, erguendo a mão à laia de protesto.
- Esquece-se de que sou muçulmano, e um fiel servidor do Profeta - disse ele. - Mas, diga-me, o que contém este frasco de vidro verde que meteu na algibeira?
- É um clorofórmio.
- Mas isso também nos está interdito. É uma essência e não nos servimos de tais coisas.
- O quê?, queria que fosse feita uma operação à sua mulher sem anestésico?
- Ah!, ela não sentirá nada, a pobre alma! O sono profundo já chegou, é a primeira manifestação do veneno. E depois dei-lhe o nosso ópio de Esmirna. Venha, senhor, já passou uma hora.
VII
Quando saíram para a escuridão, uma rajada de chuva atingiu-os no rosto, e o candeeiro do vestíbulo, que estava pendurado no braço de uma cariátide de mármore, apagou-se.
Pim, o mordomo, empurrou a pesada porta e teve que lutar com o ombro contra o vento, ao passo que os dois homens avançavam para o clarão amarelo que indicava o sítio onde estava o fiacre.
Decorrido um instante, rodavam para o seu destino.
- Fica longe? - perguntou Douglas Stone.