Histórias Extraordinárias - Cap. 3: O PARASITA Pág. 55 / 136

Desde há algum tempo consigo conhecer-me um pouco melhor e à medida que me conheço melhor, desço mais baixo na minha própria estima.

Nunca fui, seguramente, tão fraco como sou agora.

Às quatro horas, teria sorrido se me tivessem dito que nessa noite iria a casa de miss Penelosa e, no entanto, às oito horas, estava, como de costume à porta de Wilson.

Não sei como isso aconteceu: a influência do hábito, suponho. Talvez exista uma mania de magnetismo, como existe uma opiomania, e eu seria uma vítima dela.

Tudo o que sei é que, estando a trabalhar no meu gabinete, senti-me cada vez mais enervado: andava de um lado para o outro sem objectivo, agitava-me sem motivo, não conseguia concentrar a atenção nos papéis que tinha à minha frente. Então, por fim, antes mesmo de dar-me conta do que fazia, peguei no chapéu e apressei-me a sair para ir ao meu encontro habitual.

Foi um serão interessante.

Mrs. Wilson esteve presente durante a maior parte da reunião, o que fez desaparecer o embaraço que um de nós dois, pelo menos, teria sentido.

Os modos de miss Penelosa foram iguais aos do costume, e não exprimiu nenhuma surpresa quando me viu aparecer, apesar do meu bilhete.

Nada havia na sua atitude que mostrasse que o incidente da véspera deixara nela uma qualquer impressão, de maneira que pude, até certo modo, esperar que houvesse exagerado as coisas.

6 de Abril, à noite. Não, não, não as exagerei.

Não posso fechar por mais tempo os olhos à evidência: esta mulher concebeu uma paixão por mim.

É monstruoso, mas é verdade.

Uma vez mais, está noite, ao despertar do transe mesmérico, encontrei-me com a minha mão na dela, o espírito repleto da odiosa sensação que me leva a espezinhar a minha honra, o meu futuro - tudo -, a lançar tudo aos pés desta criatura, que não possui nenhum encanto terrestre, como tão bem vejo quando estou fora da sua influência.





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