Histórias Extraordinárias - Cap. 3: O PARASITA Pág. 71 / 136

13 de Abril. Os meus nervos recuperaram toda a sua elasticidade.

Creio que, na verdade, triunfei desta criatura. Mas devo confessar que não vivo sem alguma apreensão. Ela encontra-se restabelecida, porque soube que tinha dado um passeio de carruagem com mrs. Wilson na Grande Rua esta tarde.

14 de Abril. Gostava de poder partir definitivamente. Fugirei para junto de Agathe, mal o semestre termine. Admito que é da minha parte uma lastimável fraqueza, mas esta mulher implica-me terrivelmente com os nervos.

Tornei a vê-la e falei-lhe novamente.

Foi logo a seguir ao almoço e eu fumava um cigarro no meu gabinete quando ouvi no corredor os passos do meu criado Murray.

Pareceu-me vagamente ouvir atrás dele outros passos.

Não me ralei muito para saber quem podia ser quando de súbito um ruído leve me fez levantar da cadeira, trémulo de apreensão.

Nunca prestara atenção de um modo especial ao que podia ser o som que emite uma muleta de enferma, mas os meus nervos agitados revelaram-me que se tratava da pancada seca da madeira alternando com o ruído seco que faz o pé ao tocar no solo.

E um instante depois, o meu criado deixou-a entrar. Nem sequer tentei demonstrar qualquer delicadeza convencional.

Ela também não o tentou.

Fiquei simplesmente como estava, de cigarro na mão, e fitei-a.

Por seu lado, ela fixou-me silenciosamente e, pelo seu olhar, recordei-me das páginas em que havia tentado transmitir a expressão dos seus olhos e dizer se era dissimulada ou cruel.

Nesse dia era a crueldade, uma crueldade fria, inexorável.

- Ora bem - disse por fim -, continua com a mesma disposição da última vez em que nos encontrámos?

- Estive sempre com a mesma disposição.

- Compreendamo-nos bem mutuamente, professor Gilroy - disse ela muito lentamente.





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