Histórias Extraordinárias - Cap. 4: O GATO DO BRASIL Pág. 99 / 136

A sua atitude no último dia foi tal que me teria despedido do meu anfitrião sem a conversa combinada entre nós para a noite com a qual contava para o reequilíbrio dos meus negócios.

Era já tarde quando esta conversa ocorreu; porque o meu primo, que tinha recebido nesse dia ainda mais telegramas do que de costume, se instalou no seu escritório depois do jantar e só de lá saiu uma vez a casa adormecida. Ouvi-o, como todas as noites, a fechar as 'portas; depois do que veio ter comigo ao bilhar. O seu corpo vigoroso estava envolto num roupão e trazia nos pés babuchas vermelhas. Sentado numa poltrona, confeccionou um grogue, no qual não pude deixar de notar que entrava muito menos água do que uísque.

- Que raio! - resmungou. - Mas que noite!

O vento, com efeito, uivava em torno da casa, fazendo ranger e quase arrancando as grades das janelas; no meio desta tempestade acesa, a claridade amarela dos candeeiros parecia-nos mais viva, o perfume dos charutos mais penetrante.

- Agora, meu rapaz, temos por nossa conta a noite e a casa. Fale-me dos seus negócios e eu verei o que posso fazer para pô-los um pouco em ordem. Mas preciso de conhecê-los em pormenor.

Assim encorajado, fiz-lhe um extenso relato no qual desfilaram todos os meus fornecedores e credores, desde o meu senhorio até ao meu criado de quarto. Tinha comigo alguns apontamentos, o que me permitiu apresentar cada facto na sua altura e expor como um homem de negócios um sistema de vida que, nada tendo em comum com os negócios, me havia conduzido à minha lamentável situação. Infelizmente caí do alto das minhas esperanças quando me apercebi de que o meu primo apenas me observava com olhos indecisos. O seu pensamento flutuava noutras paragens. Se, por acaso, emitia uma observação, era puramente formal, e de tal modo «ao lado» que evidentemente não havia prestado à minha exposição a atenção mais sumária.





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