Eneida - Cap. 5: Os Jogos Fúnebres Pág. 100 / 235

Acalmando com essas palavras a alma cheia de temores da formosa deusa, Neptuno atrelou os cavalos de crinas douradas ao seu carro azul. Balançando as rédeas, o deus seguiu ligeiro por sobre as ondas. Aplainavam-se as marés à sua passagem e fugiam as nuvens no vasto céu. Rejubilava-se o oceano. Vastas baleias esguichavam água alegremente com os seus enormes dorsos, lisos e brilhantes, a arfar, enquanto os golfinhos pulavam e mergulhavam em intenso júbilo. Na sua esteira magnífica, seguia o séquito de imortais do mar: ninfas e deuses das águas profundas — o velho cortejo de Glauco e Palémon, filho de Ino, os ligeiros Tritóes e todo o cardume de Forco. À esquerda, acompanhavam-no Tétis, mãe de Aquiles, Mélite, a virgem Panopeia e muitos outros.

Soprava bom vento na superfície calma do mar e Eneias ordenou que se levantassem os remos e que se abrissem as velas. Todos obedeceram prazenteiramente, cada um na sua tarefa determinada e, levados pelas brisas ligeiras, que enfunavam as lonas estendidas, rumaram os troianos para a Itália. Cansados, os remadores estenderam-se nos bancos para tirar o repouso merecido, enquanto Palinuro, piloto da nau capitania, permanecia alerta ao leme, mandando voltar as velas ora para aqui ora para ali, aproveitando os menores movimentos do ar que encrespavam o mar banhado pela lua.

Então, ao mando de Juno, Morfeu, o deus do sono, foi silenciosamente até ao local e parou defronte dele sob a forma do ilustre navegante Forbas, dizendo-lhe:

— Palinuro, filho de Iásio, as ondas gentis e as brisas suaves nos levam. Tira esta hora para descansar. Deita a cabeça e fecha os olhos fatigados. Deixa que eu te substituirei.





Os capítulos deste livro