Eneida - Cap. 6: Eneias no Mundo das Sombras Pág. 105 / 235

Foi assim que a Sibila de Cumas pronunciou as suas fatídicas profecias: a verdade meio escondida entre as palavras severos, mas claramente inteligível.

Quando viu cessar o frenesi alucinado da mulher cujos lábios silenciaram, Eneias disse:

— Nenhum dos perigos e trabalhos por que passei, ó sacerdotisa, me veio

sem que o esperasse, pois bem sabia quão difícil seria a tarefa quando parti de Tróia para levantar os muros da nova cidade em terras estrangeiras. Uma coisa agora te peço. Como estamos aqui às próprias portas do Inferno, ao lado dos pântanos escuros do Averna, para onde transbordam as águas daquele rio lôbrego que é o Aqueronte, seja-me lícito ir até à presença e à fala do meu querido pai Anquises, ensina-me o caminho e abre-me as portas sagradas. Aos meus próprios ombros o salvei por entre as chamas que nos cercavam e das lanças gregas que nos perseguiam e retirei-o do meio dos inimigos. Acompanhando-me, embora fraco de forças, ele viajou comigo pelos mares, arrostando as ameaças do céu e da terra, para além do que a sua idade lhe teria permitido. Apareceu-me, há dias, em sonhos e ordenou-me que te procurasse, pois me indicarias o caminho que até ele me levaria. Compadece-te, pois, Sibila, do pai e do filho, tu, ó benfazeja, que foste encarregada por Hécate de velar pelos bosques infernais do Averno. Se Orfeu pôde trazer do Mundo das Sombras a alma de Eurídice, por magia da lira de cordas sonoras da Trácia, se Pó1ux redimiu o irmão, indo e vindo continuamente por esse caminho, como o fizeram também Teseu e Hércules, porque não o poderei eu, igualmente nascido de uma deusa, da própria filha de Júpiter?





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