Eneida - Cap. 7: Os Troianos Desembarcam na Itália Pág. 129 / 235

Respondeu-lhe Ilioneu, companheiro de Eneias:

— Ó rei, digno filho do deus Fauno, nenhuma negra tempestade nos obrigou, impelidos pelas ondas, a abordar estas costas, nem qualquer astro ou litoral nos enganou no nosso rumo. Pensada e intencionalmente para aqui nos dirigimos, exilados que fomos do nosso reino incendiado e destruído, outrora o mais glorioso de quantos o Sol, vindo do Oriente, iluminava. A origem da nossa raça vem de Júpiter e é o Tróia no Eneias, seu descendente por parte da deusa Vénus, que aqui nos envia. De todos é conhecida a guerra cruel travada pelos gregos contra a nossa grei e o fim triste que teve. Saídos incólumes da tempestade de ferro e fogo que os deuses fizeram chover sobre as nossas cabeças pelas mãos de Agamémnon, Menelau, Aquiles, Pirro e outros, cruzamos os extensos mares, aqui chegando com a esperança de que tu nos concederias uma pequena sede para os deuses da nossa pátria, um pedaço de praia e o ar e a água comum a todos. Não seremos indignos do teu reino, nem deixará a tua fama de ser por nós engrandecida nem se apagará das nossas mentes o reconhecimento por tão grande favor. Juro pelos destinos de Eneias e pelo seu braço valoroso na paz e na guerra, que muitos foram os povos que a nós se apresentaram oferecendo aliança. Mas os destinos dos deuses obrigaram-nos a prosseguir viagem e a procurar as vossas terras. Dárdano, aqui nascido, para aqui volta. Apoio impeliu-nos incessantemente para o Tibre e para as águas sagradas da fonte Numícia. Eneias vem, por meu intermédio, oferecer-te estes insignificantes presentes, restos salvados da outrora enorme fortuna da infeliz Tróia. Esta taça de ouro era usada pelo próprio Anquises nos seus sacrifícios, junto aos altares. Com este manto, distribuía o pobre rei Príamo a justiça entre os seus súbditos. Aqui estão o seu ceptro, a sua coroa sagrada e as suas vestes, tecidas e bordadas pelas damas troianas.

A tais palavras de Ilioneu, o rei Latino conservava um expressão fixa no rosto, imóvel como que pregado ao solo.





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