Eneida - Cap. 9: Os troianos são Cercados Pág. 165 / 235

Comoveram-se até as lágrimas os rudes guerreiros troianos que assistiram à cena e, mais do que todos, enterneceu-se o coração do jovem Ascânio ao ver essa prova de amor filial. E assim se expressou:

— Podes confiar, que teu desejo será satisfeito, pois assim te fazes digno pela empresa arriscada que ora encetas. Sim, será como mãe para mim e somente lhe faltará o nome de Creusa. Grande reconhecimento devemos prestar a mãe que tem um filho tão valoroso. Quaisquer que sejam as consequências da tua missão, juro por esta cabeça — pela qual antes meu pai costumava jurar — que todas essas coisas a ti prometidas serão reservadas à tua mãe e à tua família.

E calou-se, chorando. Entregou a Euríalo uma belíssima espada guarnecida de ouro, que o insigne artista cretense Licáon adaptara a uma bainha de marfim. Mnesteu presenteou Niso com uma felpuda pele de leão e o fiel Aletes trocou o seu capacete com o de Euríalo. Partiram bem armados. Os principais chefes do acampamento acompanharam os dois até aos portões desejando feliz êxito na missão. Mostrando animo e prudência viril — muito superior ao que os seus tenros anos faziam supor —, o jovem Ascânio deu-lhe as últimas instruções, mas o vento carregou-as para longe.

Saindo da paliçada, transpuseram os fossos e, pelas sombras da noite, penetraram no acampamento que lhes deveria ser fatal. Por toda a parte se viam guerreiros deitados na relva, adormecidos ou embriagados. Os carros de guerra, parados na areia, apontavam as lanças para o céu, enquanto os homens se encostavam aos jaezes, arreios e rodas, entregues ao repouso. Niso então disse:

— Euríalo, devemos empregar o nosso braço em algum feito audaz e a ocasião é-nos propícia. O caminho é por aqui. Fica alerta à retaguarda, enquanto embebo a minha lamina no sangue latino.





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