Eneida - Cap. 9: Os troianos são Cercados Pág. 166 / 235

Assim dizendo, investe com a espada contra o soberbo rei Ramnete, amigo pessoal de Turno, que dormia ressonando em cima de sumptuosos tapetes. Matou também três escravos que jaziam perto, entre as armas reais e o escudeiro Remo, o condutor da biga de guerra. A esses e a muitos outros, degolou com a lâmina afiada, qual leão faminto Misto que, à noite, espalha o terror no curral de ovelhas mudas e inertes de medo, e ruge com a boca ensanguentada. Camas, tapetes e a própria terra ficaram ensopados de sangue negro.

Não era menor a mortandade que Euríalo infligir aos inimigos. Inflamado de ódio, enfureceu-se e avançou de espada nua enviando muitas almas de corpos adormecidos ao Orco e até mesmo de um acordado, Reto, que, temeroso, se refugiara atrás de um vaso. O troiano, no entanto, acompanhou-o e cravou-lhe no peito a espada, até aos copos. Reto deixou a vida vomitando sangue purpúreo juntamente com vinho, enquanto Euríalo prosseguia na matança. Já se dirigia aos companheiros de Messapo, junto aos quais as fogueiras quase apagadas iluminavam fracamente os corceis que pastavam na relva. Mas alertou-o Niso:

— Cessemos, pois a inimiga aurora já nasce. Já demos castigo merecido ao inimigo e abrimos uma larga estrada para nós.

Deixando de lado muitas armas ornadas de prata maciça, bem como taças e esplêndidos tapetes, Euríalo apoderou-se das insígnias de Ramnete e do boldrié com botões de ouro, colocando na cabeça o capacete de Messapo. Fugiram então do perigo.

No entanto, alguns cavaleiros, mandados vir por Turno da cidade do rei Latino, já se aproximavam do acampamento, em número de aproximadamente trezentos. Os reflexos do capacete de Euríalo traíram os fugitivos e, apesar da escassa luz reinante na madrugada, a tropa avistou-os. Volscente, chefe do esquadrão, bradou então:

— Alto, guerreiros! Qual o motivo da vossa marcha? Porque estais armados? Para onde vos dirigis?





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