Eneida - Cap. 9: Os troianos são Cercados Pág. 167 / 235

Nada respondendo, os dois troianos apressaram a marcha, procurando ocultar-se na escuridão da floresta. De toda a parte convergiram os cavaleiros buscando os fugitivos e guardando todas as saídas. Confundindo-se no escuro, que mal permitia distinguir a trilha por onde seguia, Euríalo atrasou-se, enquanto Niso conseguia escapar, passando além dos lagos onde o rei Latino possuía urnas férteis pastagens. Só muito tarde deu por falta do amigo e exclamou:

— Ó infeliz Eu ralo, em que lugar te deixei eu? Por onde te procurarei, percorrendo novamente todo o caminho tortuoso da floresta traiçoeira?

E ia assim seguindo o caminho inverso, quando ouviu o tropel e os gritos da cavalaria que os perseguia. Surgiu então Eurialo, arrastado, preso, por dois cavaleiros. Com o pensamento atordoado, Niso não sabia o que fazer, para onde se virar. Pensava:

«Como posso eu, sozinho, salvar meu o amigo dentre tantos? Devo lançar-me à minha própria perdição, atirando-me para cima dos inimigos e encontrando morte rápida, embora gloriosa?»

Levantando a lança, olhou para o céu banhado de luar e orou:

— Ó tu, Diana, jóia dos astros e protectora dos bosques, auxilia-me nesta empreitada. Se alguma vez o meu pai Hírtaco ofereceu por mim dádivas nos teus altares, se eu mesmo lá depus algumas, depois das minhas caçadas, ou as dependurei no tecto do teu santuário, ou as fixei no vestíbulo sagrado, permite que eu ponha em debandada esta gente e dirige a minha lança através dos ares.

Em seguida, segurou o ferro com todas as suas forças e arremessou-o. Sibilando, a arma cortou as sombras da noite e cravou-se nas costas de Sulmone, que caiu vomitando sangue, com os flancos a arfar, agonizante. Animado com o feito, Niso levantou outra lança e o ferro assassino foi-se cravar na cabeça de Tago, atravessando-lhe o cérebro. Enfurecido, Volscente ordenou que se buscasse o inimigo oculto, mas em parte nenhuma o conseguiram encontrar.





Os capítulos deste livro