Eneida - Cap. 10: A Assembleia dos Deuses Pág. 189 / 235

E, descendo veloz das nuvens, a rainha do Olimpo foi direita ao local da peleja, no seu carro reluzente, antes que Júpiter mudasse de ideias. Escondida numa nuvem, agarrou nalguns farrapos dela e com eles confeccionou um fantasma, à semelhança da figura de Eneias. Em tudo—vestes, armas e escudo reluzentes, penacho do capacete flutuando ao vento e até mesmo no garbo e andar—a figura era a perfeita reprodução do original. No entanto, era de substância imaterial e fugidia como as sombras que passeiam no reino de Plutão ou as formas que nos aparecem em sonhos. A imagem percorria altiva as primeiras fileiras de combatentes e, avistando Turno, adiantou-se na sua direcção e lançou-lhe um dardo. Com um som fantasmagórico, a arma passou próximo da cabeça do rótulo. Como que apavorado, a figura voltou-se e disparou em furiosa correria na direcção da praia próxima.

Turno, completamente iludido pela perfeição do fantasma, espantou-se com a sua atitude, pois não podia conceber o troiano atirado em fuga, acobardado. E gritou-lhe:

— Para onde foges; Eneias? Não desprezes a tua noiva recente de modo tão leviano! O meu braço dar-te-á a terra pela qual cruzaste os oceanos ou pelo menos a porção de que realmente precisas

Assim vociferando, perseguia a sombra brandindo a espada, não reparando em que eram os ventos que a afastavam do objectivo. Por acaso, atracado a um rochedo elevado, ainda lá permanecia o navio lódão que trouxera o rei Osírio com seus homens. A trémula imagem do fugitivo atravessou a prancha lançada da borda à terra e avançou barco adentro. O ligeiro Turno seguiu-a atento e poisou no convés logo atrás dela, mas, assim que Juno o viu seguro, cortou os cabos que prendiam o barco à costa e, levado por uma brisa ligeira, lá se foi ele afastando das praias.





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