Eneida - Cap. 10: A Assembleia dos Deuses Pág. 190 / 235

Nesse momento, a sombra etérea do troiano desvaneceu-se na atmosfera, ante os olhos espantados do Talo. Já agora deslizava veloz o barco, levado por uma forte ventania, para o mar alto. Turno, sem conseguir compreender o que se passara, ouvia os sons da batalha cruenta diminuírem cada vez mais lá longe e compreendeu que os céus o tinham feito cair numa armadilha. Levantando os braços para os astros exclamou:

— Ó Pai Omnipotente, de que crime tão grande me julgas-te culpado para que eu receba tão horrível castigo? Para onde sou arrebatado? Tornarei a ver o meu torrão natal, os muros da minha cidade, os meus companheiros, o meu pai? Que vergonha é que eu, Turno, tenha desertado de meus guerreiros, deixando-os perecer nas mãos troianas! Que poço bastante profundo haverá que possa esconder-me do desprezo dos meus? Ó ventos, sede compadecidos e levai-me com este navio para os escolhas traiçoeiros ou atirai-o às costas desertas de uma terra selvagem, onde não me sigam os rótulos ou a noticia do acto praticado.

O seu pensamento agitava-se, enlouquecido, indo de uma ideia para outra, e para outra ainda, sem cessar. Se, como um louco, se deveria trespassar com o ferro da lança, se embeberia a lamina nua da espada nas costas, se se atiraria às ondas e procuraria a nado atingir a terra distante, para de novo se lançar contra as armas dos troianos. Três vezes esteve à beira de tentar cada uma daquelas saídas, mas três vezes Juno lhe susteve as forças, e o navio, levado pelas marés e pelos ventos e orientado pela mão da deusa, chegou finalmente a um ponto muito ao sul do litoral de onde partira, perto da antiga cidade de seu pai Dauno.

Enquanto isso, na planície, Eneias, não a mortalha sem forças, mas o próprio herói em carne e osso, vibrante de energia, desbaratava fileiras e fileiras inimigas. Por toda a parte a vitória sorria aos troianos, pois os rótulos, sem 0 seu chefe, estavam em debandada.





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