Eneida - Cap. 11: O Rei Latino Pede Paz Pág. 200 / 235

Do outro lado, os pobres latinos tinham o mesmo procedimento. Muitos corpos eram cromados, outros sepultados ali mesmo na areia e outros ainda enviados às cidades vizinhas, para os braços e cuidados dos parentes. Não havia, porém, nem honras nem cânticos. Os muitos cadáveres eram atirados de qualquer maneira, em grande confusão, às piras imensas. Depois do terceiro dia de actividade, rebuscaram os restos das fogueiras e sepultaram os ossos e as cinzas remanescentes. Na cidade opulenta do rei Latino ressoavam no ar os lamentos do grande luto. Mães, noras, irmãs, órfãos, todos detestavam a imagem do Marte cruel e abominavam a aliança com os rótulos. Bradavam, enraivecidos e incitador pelo implacável Drances, que ele Turno, apenas acompanhado pelos seus homens e armas é que deveria lutar pelo reino da Itália. Drances afirmava que a Eneias só interessava o rei rótulo e nada mais era reclamado para o combate. Mas também muitos outros — tomando o partido da rainha Amata — defendiam a continuação da aliança, lembrando os feitos heróicos de Turno, as suas proezas guerreiras e os troianos que vencera.

No meio da discórdia e da confusão que reinavam entre os latinos, eis que regressavam os embaixadores enviados à cidade de Diomedes, para pedir auxílio ao grande guerreiro grego. Eram más as noticias. De nada tinham servido os esforços, os presentes, as súplicas, o ouro oferecido. Que procurassem outras alianças ou então que o rei Latino pedisse a paz aos troianos. O próprio rei desmaiou ao ouvir a noticia. A cólera dos deuses, o grande revés nas armas, os funerais e prantos que enchiam toda a cidade advertiam-no de que Eneias fora trazido àquelas costas por força dos destinos. Mandou, então, reunir os principais chefes, lordes e conselheiros do reino em grande assembleia no palácio. Acorreram todos, pressurosos, e encheram o grande salão do trono onde o rei, mais velho e de maior autoridade, tomou assento com o semblante carregado. Pediu a Vénulo, o chefe da embaixada que fora à Grécia, que expusesse os resultados de sua missão. E, obedecendo, assim falou ele:

— Ó cidadãos latinos, fizemos a perigosa jornada até Argiripa, cidade fundada por Diomedes, o grego poderoso, um dos principais vencedores do baluarte de Tróia. Lá chegados, apresentamos os nossos presentes e declaramos nome e pátria. Dissemos que povos nos trouxeram a guerra e que motivos nos tinham levado à Grécia.





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