Eneida - Cap. 2: Partem os Troianos Pág. 21 / 235

Oprimido de medo, Eneias ficou estupefacto, com os cabelos eriçados e a voz presa na garganta. Lembrou-se então que o infeliz rei Príamo havia mandado furtivamente aquele jovem, Polidoro, ao rei da Trácia para que o educasse, quando percebeu que a cidadela de Tróia não resistiria por muito mais tempo ao assédio dos pregos. Polidoro levara consigo uma grande fortuna para pagar a educação. Entretanto, o traiçoeiro rei, quando soube que os troianos tinham sido derrotados, passou-se para o lado dos gregos e, depois de mandar assassinar o jovem, apossou-se de todo o ouro que este trouxera.

Voltou então Eneias para junto dos seus companheiros e contou-lhe o prodígio que presenciara, perguntando-lhes sobre o que achavam que deveriam fazer. Todos foram unânimes em partir daquela terra ímpia onde o sagrado direito da hospitalidade tinha sido tão cruelmente vio lado.

Antes, porém, realizaram o funeral de Polidoro. Cavaram uma grande sepultura em volta da qual dispuseram altares em sua honra, enquanto a mulheres choravam, com fitas azuis e negras nas cabeças e os cabelos soltos tudo segundo o costume. Depois de derramarem leite quente e sangue sagrado no sepulcro, fecharam-no, invocando mais uma vez a alma do jovem infortunado.

Então, mais confiantes em si, fizeram-se aos mares, deixando para tras as terras que tinham começado a lavrar e a cidade começada a construir.

Delos, berço de Apolo e Diana, era uma ilha que nos tempos idos vagava incessantemente, para lá e para cá, ao sabor das ondas, entre Giaros e Micon. O deus, agradecido à sua terra natal, fixou-a, na entanto, para que fosse venerada e pudesse arrostar os ventos. Para lá se dirigiram Eneias e os seus camaradas, entrando com os navios no seu porto seguro. Desembarcaram, a fim de levar ao deus os seus sacrifícios, e foram recebidos pelo rei Anio, que reconheceu o seu velho amigo Anquises. Apertaram-se as mãos direitas em sinal de hospitalidade e foram conduzidos ao palácio real. Eneias dirigiu-se então ao templo de Apolo e lá fez uma invocação:

— Ó Apolo, dai-nos uma morada estável, a nós que estamos cansados. Queremos uma cidade protectora e fortificada onde possamos criar os nossos filhos. A quem devemos seguir? Para onde nos mandais ir? Onde quereis que construamos as nossas casas? Dai-nos, ó pai, um presságio!





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