Eneida - Cap. 2: Partem os Troianos Pág. 22 / 235

Mal tinha acabado de falar e tudo começou a tremer: o portal do templo, os ramos sagrados sobre o altar, a própria colina onde estavam. Gemiam as trípodes e abriu-se o sacrário. Perante aquilo, Eneias e os seus camaradas rojaram-se ao chão, enquanto Ihes chegava aos ouvidos uma voz:

— Ó filhos de Dardanios, endurecidos nos combates da vida, a terra donde sairam os vossos antepassados vos receberá. Procurai-lhe pois, o solo fértil e lá Eneias será rei e fundará uma nova raça.

Grande alegria apossou-se então dos troianos que tinham ouvido a profecia divina. Indagavam-se, no entanto, em grande confusão, que terras seriam aquelas para onde Apolo os tinha mandado retornar.

Depois de pensar profundamente durante algum tempo, disse Anquises, pai de Eneias:

— Ouvi, ó chefes, e tende esperança. Os berços da nossa nação ficam situados no meio do mar, na ilha de Creta, do grande Júpiter e dos montes Ida. Há cem grandes cidades naquele reino fertilíssimo. De lá partiu Teucro, nosso primeiro antepassado directo, aportando às costas de Dardânio e lá fundando Tróia, que hoje, saqueada pelos gregos, está reduzida a cinzas. Lá em Creta também morava Cibele, a máe-montanha dos deuses, muito prendada na arte de curar e na agricultura. Vagando pelos bosques escuros das encostas, tocava as suas flautas e guiava o seu carro puxado por leões domesticados. A seu lado, dançavam sacerdotes loucos, os coribantes, cortando a própria carne com facas enquanto gritavam, uivavam e tocavam os címbalos em fúria alucinada. Vamos, pois, e sigamos para onde nos conduzem as ordens dos deuses. Aplaquemos os ventos e velejemos para Creta, que, se Júpiter nos ajudar, veremos ao terceira dia de viagem.





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