Eneida - Cap. 12: O Combate Final Pág. 221 / 235

A ninfa ali ficou, entristecida, a olhar o espectáculo. Vendo, no entanto, que o receio pelo desfecho da peleja desigual crescia no coração dos rútulos, transformou-se ela em Camerto, guerreiro famoso pelos feitos nas armas e pela alta linhagem da família e dirigiu-se aos batalhões rótulos nestes termos:

— Não tendes vergonha, ó guerreiros, de expor uma só vida pelas vossas todas, que são tão bravas? Acaso em número e em forças não somos todos iguais? Ai estão essas tropas troianas, árcades e etruscas, mas assim mesmo nós os ultrapassamos em número pelo dobro. A fama de Turno, em verdade, elevar-se-á até ao Olimpo, pois aos deuses se sacrifica nesse altar e seu nome imortal será proferido por todas as bocas, enquanto nós, que agora vemos morrer o vosso príncipe, curvaremos depois o pescoço ao jugo do senhor soberbo.

O sentir dos guerreiros rótulos inflamava-se com estes apelos. Crescia a agitação nos batalhões. Até mesmo os latinos e laurentinos já começavam a mudar de opinião. Eles, que agora finalmente esperavam o fim do combate e da guerra, com a salvação dos seus reinas, já corriam às armas e clamavam pela suspensão da contenda entre Eneias e Turno.

Juturna então fez vir do céu admirável prodígio que alicerçou as suas palavras no coração dos guerreiros. Uma águia, voando alto, atacou subitamente, em veloz descida, um bando de aves ribeirinhas e conseguiu prender, com as suas garras, um grande cisne. Ante os olhares embasbacados dos ítalos, as aves em debandada voltaram da sua fuga e — ó prodígio! — obscureceram o ar com as suas penas e atacaram e perseguiram o terrível inimigo até que este, esgotado de forças e vencido pelo peso da presa, a largou e desapareceu nas nuvens. Um gigantesco murmúrio de admiração e espanto percorreu as fileiras rótulas e latinas, pois viam representada, naquele agouro do céu, a sua própria situação.





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