Eneida - Cap. 12: O Combate Final Pág. 235 / 235

O clamor da turba que assistia fez retinir as montanhas e ondear as arvores nos bosques. O vencido, humilde e suplicante, dirigiu-se ao vencedor, estendendo-lhe os braços. Apesar disso, nada disse de vergonhoso:

— Mereci, por certo, a morte, nem a procuro evitar com as minhas súplicas. Usa o teu direito. Mas se — lembrando-te de teu pai Anquises — queres demonstrar um pouco de compaixão por um pobre pai, pensa na velhice infeliz de Dauno e restitui-me aos meus, vivo ou morto, como preferires. Vencestes e aqui, rótulos e latinos, vêm estender-te as mãos suplicantes. Agora toma Lavínia por esposa e não tentes mais os deuses com a tua vingança.

Eneias, com a espada desembainhada e levantada em cima da cabeça do guerreiro vencido, comovia-se com essa fala e, embora Turno se recusasse a pedir-lhe que o poupasse, esse pensamento começava a ganhar corpo na mente do troiano. Mas, subitamente, o seu olhar caiu no boldrié que o outro envergava e que reconheceu ser de Palas, a quem Turno prostrara morto, arrebatando os despojos. Vendo esse paramento guerreiro, a dor amarga da recordação do amigo subiu-lhe ao coração e, inflamando de cólera, exclamou:

— Porque motivo é que tu, vencido aqui no campo de batalha, hás-de escapar com vida, enquanto pendem do teu ombro os despojos dos meus companheiros? Não sou agora Eneias, mas sim Palas, filho de Evandro, que se vinga no teu sangue criminoso.

E a sua mão, célere, enterrou a espada no peito do inimigo, cujo espírito fugiu gemendo para o Mundo das Sombras.





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