Eneida - Cap. 2: Partem os Troianos Pág. 32 / 235

O vento apresentava-se favorável e Anquises não queria demorar-se mais. Dirigiu-se-lhe, então, o filho de Príamo e intérprete de Apolo:

—Ó Anquises, dignificado com a augusta aliança de Vénus, lá adiante jaz Lácio, aquela terra rica, esperando por vos, além do Tibre. Não demoreis, que o vento vos é propicio e muitos mares tendes por cruzar.

Andrómaca também veio à praia despedir-se, triste com a separação, e trouxe um bonito lenço de pescoço para Ascânio. Para ele e para os outros trouxe igualmente vestuários bordados com fios de ouro e tapetes por ela mesma tecidos. Disse então ao menino:

— Eu te dou estes presentes, meu filho, para que te recordes do amor de Andrómaca, esposa de Heitor. Aceita-os como últimas dádivas dos teus parentes, ó única imagem ainda viva de meu amado filho, Astianax. Vejo-o nos teus olhos, no teu rosto e nas tuas máos. Se não tivesse morrido, teria agora, aproximadamente, a tua idade — um lindo jovem prestes a tornar-se homem.

Eneias, pesaroso, afastou-a, dizendo:

— Para vós, amigos e parentes, já não há trabalhos, pois sois felizes, enquanto nós somos chamados a outras plagas distantes. Não mais tendes de cruzar os mares e podeis ficar aqui a admirar estas imagens do Xanto e de Tróia que construístes e que os deuses hão-de proteger dos gregos. Se algum dia, favorecidos pela sorte, chegarmos à foz do Tibre barrento e levantarmos os muros de uma nova cidade, então nós lá e vós aqui, todos descendentes de Dárdano, faremos uma sã Tróia em espírito.





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