Eneida - Cap. 4: Eneias e Dido Pág. 60 / 235

Quando Juno percebeu que Dido estava loucamente presa pelos laços do amor e que nem a sua reputação ameaçada a fazia recuar nos seus intentos, voltou-se para Vénus e disse:

— Lograste, na verdade, grande vitória ao conseguir de tal modo arrebatar a alma dessa mulher. Mas porque tiveste medo das muralhas e do povo de Cartago? Qual é o teu propósito? Para que ficaremos nós eternamente discutindo? Façamos um conluio para unir esses dois jovens em laços permanentes. Já tens o que procuravas. Dido arde de paixão inextinguível. A esse povo que a nós ambas pertence, governemo-lo as duas igualmente. Que a rainha obedeça a um marido troiano e que este e os seus companheiros sejam o dote a incorporar ao reino.

Vénus, no entanto, percebendo que a intenção secreta de Juno era fixar Eneias na Líbia, fazendo-o desistir dos planos de alcançar a Itália, respondeu:

— Quem haveria de tão insensato que preferisse a guerra contigo em vez de aceitar uma tal proposta de paz? Mas não sei se Júpiter aprovará que tírios e troianos tenham a mesma cidade e formem um único povo. A ti, que és sua esposa, é permitido sondar-lhe o espírito. Vai, pois, ter com ele e eu te seguirei.

Juno retomou então a palavra:

— Cumprirei essa missão. Mas presta atenção, Vénus, ao que te direi agora, a fim de que atinjamos o nosso objectivo o mais depressa possível. Eneias e a infeliz rainha Dido preparam-se para uma caçada no bosque, a ser feita logo que os primeiros raios de Sol iluminarem a terra. Sobre eles lançarei uma nuvem negrejante misturada com granizo e abalarei o céu com o trovão. Os caçadores, preocupados no momento em lançar as redes em torno da moita, assustar-se-ão com tais prodígios e fugirão em todos os sentidos, sendo envolvidos por uma espessa treva. Dido e o herói de Tróia, entretanto, permanecerão juntos e irão refugiar-se numa gruta. Ai, eu e tu nos apressaremos em uni-los como marido e mulher.





Os capítulos deste livro