Eneida - Cap. 4: Eneias e Dido Pág. 72 / 235

Os navios aguardavam, prontos para desfraldar as velas ao vento, enquanto os troianos gozavam o repouso merecido. Ao próprio Eneias, que dormia no convés de popa do seu navio, surgiu uma visão do divino mensageiro que o preveniu. Mercúrio, cabeleira dourada, e radiante na sua juventude vigorosa, falou-lhe severamente:

— Ó filho de uma deusa, como consegues conciliar o sono quando tudo se apresenta tão mal? Não vês os perigos que te rondam por todos os lados e que te aguardam no futuro? Louco! Não ouves soprar os ventos favoráveis? Dido, decidida a morrer, tem o coração a ferver de Kria contra ti e os teus enganos. Porque não foges daqui rápido, enquanto é possível? Em breve, veras que o mar estará coalhado de navios inimigos e que os teus, transformados em archotes candentes, espalharão o seu madeiro pelas areias brancas, fazendo ferver a água do mar. E isso acontecerá se a aurora te encontrar nestas terras. Animo, vamos, rompe as amarras e parte, que a mulher é um ente inconstante e volúvel.

Tendo falado assim, sumiu-se o deus na noite escura, e Eneias, aterrado pela visão, levantou-se rápido e gritou aos companheiros:

— Acordai depressa, homens, sentai-vos aos remos e soltai as velas. Um deus enviado do alto Olimpo incita-me de novo a apressar a fuga e a levantar ferros. Nós te seguimos, ó divino Mercúrio, e obedecemos ao teu chamado. Oh! Vós, divino mensageiro, que estais junto a nós e nos sois propicio, ajudai-nos e mostrai-nos o nosso caminho.

Logo desembainhou a espada coruscante e cortou as amarras dos barcos. Todos se animaram, lançando-se aos remos, desfraldando as velas. E lá seguiram, proas altas, cortando os mares Errios, na crista e na espuma das ondas azuladas.





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