Eneida - Cap. 4: Eneias e Dido Pág. 73 / 235

Agora, já a aurora, com a sua luz primeira inundava as terras, deixando o leito cor de açafrão de Titá. Assim que Dido, subindo aos altos mirantes do palácio, avistou a armada, panos brancos alegres ao vento, que se afastava rumo a Itália, enquanto ali ficavam as praias mudas, desertas de remadores e navegantes, o seu desespero atingiu o auge. Batendo no peito e arrancando os formosos cabelos, bradou:

— Ó Júpiter, como pode partir assim um estrangeiro que ludibriou a rainha dos cartagineses, sem que estes não corram às armas, não os persigam nos nossos navios? Ide, apressai-vos, trazei archotes e empunhai as espadas! Oh, pobre de mim! Que coisas digo que pareço louca? Agora é tarde! Quando ele aportou aqui da primeira vez, eu rente do pecado. Seria, então, a altura certa para o atacar, para lhe cortar todos os membros e os espalhar nas ondas. Devia tê-los passado a fio de espada, até mesmo ao menino Ascânio. Mas fui tola. Ofereci-lhe a partilha das minhas riquezas e da minha coroa, em vez de lhe saquear o acampamento e lhe queimar os navios!

E, rindo loucamente:

— Poderia, antes de matá-lo, tê-lo entretido com iguarias e vinhos e palavras ternas e então servir-lhe a carne fresca do seu próprio Ascânio como alimento. O filho seria, em verdade, um prato apetitoso para o pai.





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