Eneida - Cap. 4: Eneias e Dido Pág. 75 / 235

E, rindo loucamente:

— Poderia, antes de matá-lo, tê-lo entretido com iguarias e vinhos e palavras ternas e então servir-lhe a carne fresca do seu próprio Ascânio como alimento. O filho seria, em verdade, um prato apetitoso para o pai.

E continuando na fala alucinada:

— Ó Sol, que iluminas com as tuas chamas todas as almas da terra, e tu, Juno, intérprete e testemunha dos meus sofrimentos, e tu, Hécate, deusa terrível da noite, que os homens invocam nas encruzilhadas, e vós, Fúrias vingadoras, ouvi essa última prece de Dido, antes que ela morra, e voltai o vosso poder contra os maus. Se é necessário que o malvado Eneias chegue aos portos estrangeiros e desembarque na terra que os gregos chamam Hespéria, se a vontade de Júpiter assim o exige, se assim está determinado pelo Destino, que ao menos — e é essa a minha vingança —, que ao menos uma nação brava e guerreira lhe caia em cima com as suas armas, impondo-lhe uma tremenda luta, que o expulse daquelas costas e lhe arrebate o filho dos braços. E que, derrotado Eneias, se conseguir aliados, que também estes sejam esmagados, e que o herói troiano veja a morte dos companheiros. Que a paz desvantajosa que aceitar não lhe permita gozar dos prazeres de seu reino e que abandone a luz alegre da terra, morto antes do tempo, permanecendo o seu corpo insepulto na areia. Tudo isso eu vos peço, ó deuses, e esse é o meu último pedido antes de derramar o meu sangue. Quanto a vós, cartagineses, persegui com ódio a sua descendência e toda a geração futuro, alimentando o espírito de vingança nas minhas cinzas! Que nunca amizade ou paz haja entre os dois povos. Das nossa cinzas surja algum vingador que persiga a fogo e ferro os descendentes de Dárdano. Agora e sempre, em todo o tempo futuro, sejam as nossas praias contrárias as deles, as nossas ondas contrárias às deles, as nossas armas contrárias às deles. Lutemos, nós e a nossa descendência, contra Eneias e a sua descendência.





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