Eneida - Cap. 5: Os Jogos Fúnebres Pág. 84 / 235

Logo se lhes redobrou o vigor e a popa bronzeada tremia com os golpes dos grandes remos. Com a respiração ofegante, a boca seca, o suor escorrendo-lhes pelo dorso retesado, os jovens da Baleia viram a Fortuna sorrir-lhes, pois Sergesto, na sua pressa de ultrapassar a Quimera, pelo espaço estreito entre aquela e os rochedos, conduziu o seu navio por sobre os escolhas submersos. E lá ficou, irremediavelmente preso. Quebraram-se os remos e, embora a tripulação corresse a pesca-los com varas e ganchos, era tarde: o bravo navio estava fora da corrida.

Animado pelo sucesso, Mnesteu já via o seu barco, aligeirado pelo esforço redobrado dos remadores, atingir as águas livres e correr pelo mar aberto. Qual pomba afugentada subitamente do seu ninho, que se debate com ruído e depois cor. ta o ar tranquilo, sem sequer mover as asas, assim também a Babeia sulcava o mar na direcção da costa, deixando Sergesto a debater-se preso ao escolho, implorando debalde por socorro e procurando safar-se com o auxílio dos remos partidos. Já ultrapassavam então a Quimera que, privada do seu experimentado piloto, cedia terreno atrapalhada pelo seu grande peso.

Lançou-se então Mnesteu à perseguição da Cila de Cloanto. Redobraram os aplausos e o ar ressoava com os gritos dos assistentes. O coração do comandante da Baleia rejubilava, na esperança de ultrapassar o contendor e vencer a regata. O acidente com Sergesto fazia-o acreditar que os deuses lhe haviam destinado a palma da vitória. Orava aos ventos e estimulava a guarnição. Parecia agora que o navio de Mnesteu sobrepujaria o Cila entrando à sua frente no porto, mas Cloanto estendeu os braços para o mar e assim orou:

— Ó Neptuno e deuses que tendes o domínio das planícies marinhas onde agora deslizo, a vós, eu, alegre, sacrificarei ante os vossos altares, nessas praias, um touro branco e, por esta promessa, espalharei as suas entranhas pelas ondas e nelas derramarei o vinho.

Assim falou e todo o coro das Nereidas e a virgem Panopeia o ouviram no fundo mar. O próprio Neptuno impeliu o navio com a sua poderosa indo. Então, mais ligeira que os próprios ventos, a Cita encaminhou-se para a costa e entrou no ancoradouro.





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