O viajante disse que os seis unicórnios estavam à sua disposição; que vinha com ele do país dos gangáridas; e aproveitou a ocasião para falar da princesa de Babilônia e daquele beijo fatal que ela dera no rei do Egito: ao que o outro não replicou absolutamente nada, pouco se lhe dando que houvesse no mundo um rei do Egito e uma princesa de Babilônia. Esteve ainda um quarto de hora sem dizer coisa alguma; depois tornou a perguntar ao companheiro como ele se fazia e se comiam bom roast-beef. O viajante respondeu-lhe com a habitual polidez que nas margens do Ganges ninguém comia seus irmãos. Explicou-lhe o sistema que foi, depois de tantos séculos, o de Pitágoras, de Pórfiro, de Jâmblico, com o que o milorde adormeceu e não fez mais que um sono até chegarem à sua casa.
Tinha ele uma mulher jovem e encantadora, a quem a natureza dera uma alma tão viva e sensível quanto a do marido era indiferente. Vários senhores albionenses tinham ido jantar com ela naquele dia. Havia caracteres de toda espécie; pois como o pais quase nunca fora governado a não ser por estrangeiros, as famílias vindas com esses príncipes tinham quase todas trazido costumes diferentes. Havia na companhia pessoas muito amáveis, outras de espírito superior, outras de profundo saber.
A dona da casa nada tinha desse ar postiço e esquerdo, dessa rigidez, desse falso pudor que censuravam então nas jovens de Albion; não ocultava, numa atitude desdenhosa e num silêncio afetado, a esterilidade de suas ideias e o humilhante embaraço de não ter nada que dizer: não havia mulher mais insinuante. Recebeu Amazan com a polidez e graça que lhe eram naturais. A extrema beleza daquele estrangeiro, e a súbita comparação que fez entre ele e seu marido, logo a abalaram sensivelmente.